Na tradição historiográfica positivista, os depoimentos e testemunhos orais eram considerados inadequados devido à sua pouca confiabilidade. Entretanto, essa perspectiva mudou a partir da renovação proposta pelo grupo dos Annales, a Nouvelle Historie, na qual há um privilegiamento das histórias do cotidiano e das mentalidades, apropriando-se da interdisciplinaridade para compreender uma determinada história-problema, ressaltando os aspectos sociais, coletivos e comparativos, através da utilização não só de fontes tradicionais, mas de novas fontes como a tradição oral e os vestígios arqueológicos.
Alguns cientistas sociais ainda vêm os depoimentos orais como fontes subsidiárias, através da qual é possível fazer o cotejo das fontes primárias, complementando-as e verificando-as. Outros ignoram a metodologia, a partir de uma visão positivista e etnocêntrica, desconsiderando que todo documento é questionável. Assim, cada vez mais faz-se necessária a análise das fontes, a fim de garantir uma aproximação maior das verdades relativas. Todo documento está sujeito a leituras, assim também estão as fontes da História Oral.
“ Pois é como discurso que a memória evidencia todo um sistema de símbolos e convenções produzidos e utilizados socialmente” (p.47)
Dessa forma, a História Oral permite ao cientista social descortinar visões não estabelecidas pelo status quo, dando palavras a indivíduos que não deixariam nenhum testemunho histórico e, conseqüentemente, resgatar as discussões sobre liberdade e determinismo; estrutura social e ação humana.
Uma problemática presente na História Oral é a seletividade e o esquecimento presentes na memória individual. Cumpre compreender que tanto o silêncio, quanto o esquecimento são indícios significativos para o pesquisador, pois o discurso oral do indivíduo também é parte do discurso social. Através do discurso é possível perceber os ditos e interditos existentes na relação homem-sociedade e como estes influenciam a construção da memória coletiva.
“A credibilidade da fonte oral não deve ser avaliada por aquilo que o testemunho oral pode frequentemente esconder, por sua inexatidão para com os fatos, mas na divergência deles, onde imaginação e simbolismo estão presentes” (p.73)
Deve-se considerar ainda que não há neutralidade na relação entrevistador-entrevistado, porquanto o entrevistador direciona a entrevista para os caminhos que lhe interessam percorrer, já que as memórias são reconstruídas durante o diálogo.
FREITAS, Sônia Maria de. História Oral. Possibilidades e procedimentos. Humanitas. São Paulo, 2002
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