sexta-feira, 22 de junho de 2007

Análise de conteúdo


Dentro da pesquisa social havia uma certa tendência a subestimar os textos como fonte de pensamentos e memórias. Após o advento da internet, contudo, os pesquisadores demonstraram uma renovação do interesse nessas fontes e, conseqüentemente, na análise de conteúdo e suas técnicas.

A análise de conteúdo pode ser definida de forma clara como uma técnica que permite a produção de inferências de um texto focal para seu contexto social de forma objetivada. Sendo uma interpretação, não pode ser julgada de forma absoluta como uma leitura “verdadeira”, ou como única forma de leitura do texto. Deve ser julgada sim, em termos de congruência com a teoria do pesquisador em relação ao seu objeto de pesquisa. Desta forma, o resultado de uma análise de conteúdo é a problemática a ser explicada.

Os procedimentos da análise de conteúdo reconstroem as representações em duas dimensões. Na dimensão sintática, observando-se que a freqüência de uma palavra incomum pode identificar um autor ou público; e na dimensão semântica, observando-se os sentidos conotativos e denotativos: os ditos, os temas, e os julgamentos de valor. Esses procedimentos permitem ao pesquisador traçar e comparar perfis, através de seus valores, atitudes, estereótipos, símbolos e visões de mundo.

A análise de conteúdo permite ainda diferentes estratégias de pesquisa. É possível construir um corpus de texto como um sistema aberto para verificar tendências e padrões de mudança; traçar um quadro comparativo para identificar as diferenças; construir índices a fim de identificar sinais causalmente relacionados a um fenômeno e reconstruir mapas de conhecimento.

Também são múltiplos os direcionamentos da pesquisa de análise de conteúdo, a qual pode ser: um estudo puramente descritivo; uma análise normativa; trans-seccionais; longitudinais ou longitudinais combinadas com outros dados longitudinais.

Embora a análise de conteúdo trabalhe tradicionalmente com textos, suas técnicas também podem ser aplicadas a imagens. Existem dois tipos de texto passíveis de serem trabalhados: os produzidos no processo da pesquisa e os produzidos com outras finalidades. Todos esses textos podem ser indagados para responder aos questionamentos do pesquisador.

Os textos podem ser selecionados através de amostragem. A amostragem pode apresentar três tipos de problema: sua representatividade, o tamanho e a unidade da amostragem e sua codificação. A amostragem estatística oferece um racional para estudar um número limitado de textos, estratificados numa tipologia hierárquica. A amostragem de agrupamento (cluster), por sua vez, seleciona unidades aleatoriamente, por datas. Amostragem aleatória exige uma lista completa para fazer a seleção, considerando que as unidades de amostragem possam ser facilmente substituíveis.

As unidades de amostragem podem ser físicas, o que ocorre comumente; sintáticas; proposicionais ou temáticas (semânticas). Segundo Bauer, “a representação, o tamanho das amostra e a divisão em unidades dependem, em última instância, do problema da pesquisa, que também determina o referencial de codificação”. (p.198)

A codificação e a classificação das unidades de amostra trazem em seu bojo a teoria e o material de pesquisa. O referencial de codificação compara sistematicamente o conjunto de questões, oferecendo respostas dentro de um conjunto predefinido de alternativas, de acordo com o objetivo da pesquisa.

A técnica de análise de conteúdo se compõe de três grandes etapas: 1) a pré-análise; 2) a exploração do material; 3) o tratamento dos resultados e interpretação. A primeira etapa é uma fase de organização, que pode utilizar vários procedimentos, tais como: leitura flutuante, hipóteses, objetivos e elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação. Na segunda etapa os dados são codificados a partir das unidades de registro. Na última etapa se faz a categorização, que consiste na classificação dos elementos segundo suas semelhanças e por diferenciação, com posterior reagrupamento, em função de características comuns. Portanto, a codificação e a categorização fazem parte da análise de conteúdo.

BAUER, Martin W. “Análise de conteúdo clássica: uma revisão”. in. Pesquisa qualitativa com som, imagem e texto. 3ª ed. Vozes, Petrópolis, 2004. (p. 189-221)

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