Para uma compreensão mais ampla das fontes históricas, faz-se necessária uma incursão através das transformações da História ao longo do tempo. A história tradicional, preocupada com os grandes feitos dos “grandes homens”, focalizava apenas a história nacional e internacional, jamais tratando do regional. Para a tradição histórica é suficiente saber os acontecimentos. Com os acontecimentos privilegiados pelo olhar tradicional referem-se aos fatos políticos e econômicos proeminentes, as fontes tradicionais consideradas seguras para a história são as fontes oficiais, registros oficiais tidos como “verdades absolutas”. As fontes, segundo a tradição, são inqüestionáveis, pois, como diria Ranke: “contra fatos não há argumentos”.
Rompendo com os paradigmas da tradição histórica, surge na França a Nouvelle Histoire (Nova História), cujo interesse voltava-se para o conhecimento das estruturas que permeiam as transformações do mundo e as relações humanas ao longo do tempo; considerando os diversos personagens qie precisam ser estudados, inclusive o homem comum e o cotidiano. A Nova História volta seu olhar para toda a atividade humana, pois considera que tudo é história.
A base filosófica da Nova História é a idéia de que a realidade é social e culturalmente constituída. Surgem novas correntes, como a história das mentalidades. Considerando as novas abordagens e os novos objetos é natural a emergência de novas fontes históricas, pois, se tudo é história, muitas outras evidências da ação humana podem contribuir para a compreensão dos diferentes processos históricos: fontes visuais, estatísticas, materiais, bem como as fontes orais, utilizadas no resgate de memórias individuais ou coletivas, que possibilitam uma visão mais concreta da dinâmica de funcionamento e das várias etapas da trajetória dos grupos sociais aos quais pertencem os entrevistados.
Mas as fontes, ao contrário do que pregava a tradição, não falam por si só. Elas devem ser questionadas. Eis a importância do olhar do historiador, uma aspecto que ressalta outro importante paradigma quebrado pela Nouvelle Histoire: já não se buscam mais verdades absolutas, mas diferentes versões das representações de verdades, evidenciadas pelo poder da História de realizar indagações acerca dos fatos e das estruturas relacionais que com estes se comunicam. Assim, as novas fontes e o novo tratamento das fontes tradicionais, combinados, permitiram a emergência do relativismo cultural: um novo olhar presente nas Ciências Humanas e, sobretudo, na História.
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