A necessidade da relação entre a História e as demais Ciências Humanas tornou-se uma tautologia, reconhecida pelos especialistas nas diversas historiografias nacionais, embora se discuta o grau dessas aproximações, que vão desde contatos esporádicos e empréstimos metodológicos até complexos trabalhos interdisciplinares.
Na França, com as duas primeiras gerações da Escola dos Annalles, deu-se a efetiva abertura para a psicologia, a geografia, a estatística, a sociologia e a economia, na medida em que foi se afirmando o alargamento dos estudos históricos. A obra de Braudel é certamente a mais associada a este empreendimento, considerando, no mínimo, três pontos de convergência com as ciências sociais: o conceito de duração, que se assemelha aos “tempos múltiplos” de Gurvitch; o conceito de estrutura, contestanto o exclusivismo arrogado por Levi-Strauss; e o conceito de modelo, emprestado por Braudel ao demógrafo Sauvy.
Na história econômica, o estudo das relações entre rendas, preços e ciclos econômicos (Simiand); da conjuntura econômica com a crise do Antigo Regime (Labrousse); da história da conjuntura com a geo-história (Chaunu, Mauro, Crozet); dos modelos econométricos e da história quantitativa, apontou fenômenos até então insuspeitos ou não compreendidos pela “velha história econômica e social”. Da mesma forma, a recuperação das relações de sociedades tão diversas da contemporânea, como a estamental do séc XVII (Rickert, Furet, Elias) ou as sociedades clássicas (Veyne) só foi possível graças à interação da História com as demais Ciências Humanas.
Os limites do conhecimento, na medida em que se busca a compreensão do homem em uma dimensão histórico-social mais ampla, tornam-se cada vez mais fluidos, a exemplo ainda da história das mentalidades que, com suas novas fontes e procedimentos heurísticos, aproximam sobremaneira o historiador do etnólogo, como diria Jacques Le Goff.
O aprofundamento da historiografia exige uma crescente abstração, distanciamento do senso comum e uma revolução conceitual, que ainda não desencadeou todos os seus efeitos, no que tange à compreensão do homem em sua dimensão social: a existência de diferentes níveis do real, de múltiplos processos e, portanto, de múltiplas explicações científicas e “verdades contingentes” aos problemas já estudados e ainda emergentes.