O campo científico é estruturado a partir de uma metodologia geral em quatro pólos distintos, complementares e interacionais, enquanto eixos de uma mesma prática metodológica: o pólo epistemológico, o pólo teórico, o pólo morfológico e o pólo técnico.
O pólo epistemológico exerce uma função de vigilância crítica. Pode ser comparado a um motor interno, de algum modo obrigatório, da investigação do pesquisador. Neste campo são colocadas questões epistemológicas que contribuem na resolução de problemas práticos e na elaboração de soluções teóricas válidas. O problema parte do questionamento filosófico acerca de como podemos ter um conhecimento exato do mundo que nos cerca. A alternativa proposta é investigar através do fenômeno avaliativo, respostas, objetivas ou subjetivas, para o seu atingimento parcial ou total, bem como para sua melhor compreensão.
Analisando os pólos epistemológicos, os Bruyne et alli tentam situar a dialética “numa metodologia geral, indicando as extrapolações que ela pode suscitar” ( p. 65) a partir de três aspectos: o aspecto ontológico, o filosófico e da metodologia das ciências sociais. O positivismo recusa a idéia de considerar, na filosofia, uma verdadeira teoria do conhecimento ou uma epistemologia. Mas a epistemologia não pode estar completamente separada da filosofia, pois todo pesquisador torna-se filósofo devido aos problemas que encontra em seus trabalhos científicos. Desde que o homem filosofa, indaga sobre a essência do conhecimento e essa trajetória revela um processo de concepção de erros.
“A dialética quer pensar a relação do pesquisador com seu objeto do conhecimento, das ciências com o real (...) Ela recusa as abstrações da lógica formal e transcendental, mas recusa também os “fatos empíricos” da experiência imediata. (...) O método dialético, portanto, é o oposto em seu projeto a todo método de tipo positivista” (p. 73-74)
A fenomenologia, por sua vez, posiciona-se com uma atitude reflexiva, consciente dos limites epistemológicos de sua abordagem, rompendo com as pré-noções que povoam o senso-comum, realizando uma redução fenomenológica, a qual representa o engajamento no mundo objetivo a fim de ressaltar sua relação com este, objetivando a compreensão do objeto de pesquisa do cientista social.
“ A reflexão fenomenológica guiará o pesquisador quando se tratar de colocar problemas, hipóteses, de destacar conceitos com vistas à elaboração teórica; ela poderá garantira fecundidade sempre renovada da pesquisa” (p. 79)
A contribuição e o papel do eixo epistemológico estão não só em considerar a epistemologia a margem das ciências e uma reflexão sobre os seus princípios, os seus fundamentos e a sua validade; mas também em admitir o caráter intra-científico da epistemologia, estabelecendo-se as condições de objetividade dos conhecimentos científicos como elemento intrínseco à própria ciência.
O pólo teórico guia a elaboração das hipóteses e a construção dos conceitos. É o lugar da formulação sistemática dos objetos científicos. Sua ambiência, porém, é um lugar de convergência dos outros pólos metodológicos. Uma teoria será válida na medida em que possa ser ao mesmo tempo, pertinente, coerente e testável, sem a pretensão obsessiva de pensar tudo. A teorização do estudo científico deve ser concretizada a partir de um quadro de referência ou uma matriz disciplinar.
“ A verdadeira função da teoria, concebida como parte integrante do processo metodológico, é a de ser o instrumento mais poderoso da ruptura epistemológica face às pré-noções do senso-comum, devido ao estabelecimento de um corpo de enunciados sistemático e autônomo, de uma linguagem com suas regras e dinâmicas próprias que lhe asseguram um caráter de fecundidade” (p. 102)
O pólo morfológico é a instância que anuncia as regras de estruturação, de formulação do objeto científico, impõe-lhe certa figura ou modelo, certa ordem entre seus elementos, articulando os conceitos, os elementos e as variáveis descritas nos pólos epistemológico e teórico e permitindo a construção do objeto científico através de modelos aplicativos
O pólo técnico controla a coleta dos dados, esforça-se por constatá-los para poder confrontá-los com a teoria que os suscitou. Exige precisão na constatação, mas sozinho, não garante sua exatidão. Os procedimentos de coleta das informações são tratados neste eixo metodológico. As pesquisas incumbem-se da coleta e análise dos dados em função dos quais elabora seus fatos. O pólo técnico é o momento da observação, do relato dos fatos, enquanto o pólo teórico é o momento da interpretação e da explicação destes fatos. O pólo epistemológico, por sua vez, está diretamente ligado a coleta de dados face a sua tarefa de vigilância reflexiva a respeito da formulação de seu objeto.
BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques e SCHOUTHEETE, Marc de. Dinâmica da Pesquisa em Ciências Sociais: Os pólos da prática metodológica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.
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