A questão do
método é um dos debates mais polêmicos da teoria social. Como exemplo, tem-se o
esforço dos clássicos, que se não conseguiram encerrar a questão, ao menos
deixaram indagações e pontos de partida para as futuras gerações. Por isso, para
tratar as questões de método nas Ciências Sociais, é imprescindível partir
daquele que propôs as regras do método sociológico para além das Ciências
Naturais, ainda no século XIX. Segundo Durkheim, “em questões de método (...) nada se pode fazer que não seja provisório,
pois os métodos mudam à medida que a ciência avança” (2006,16). A
consciência dessa dinâmica é o que nos induz a analisar, não as regras do
método, mas a gênese que leva às questões de método.
Durkheim,
em linhas gerais, exorta os sociólogos a não fazer pré-julgamentos sobre os
fatos sociais, antes de estudá-los minuciosamente, pois facilmente corre-se o
risco de nublar seu discernimento, devido ao convívio tão fluido com os fatos
sociais. Ao contrário, ele afirma: o sociólogo deve sentir-se, ante o seu
objeto, como se diante do desconhecido, pronto para surpreender-se e
desconcertar-se.
Na
busca de novas formas metodológicas, a partir da prática epistemológica, Karl
Marx – para quem a apreensão da realidade social deve ocorrer do concreto para
o abstrato – propôs uma análise das determinações históricas, revelando sua
preocupação com as motivações, que levaram a construção da sociedade por um
determinado caminho. O agente social passa a ser um componente na constituição
desta realidade, numa relação dialética entre sujeito e objeto. Em função dessa análise, para Marx “o
concreto só é concreto porque é a síntese de muitas determinações” ( 1996, p. 39).
Max Weber, por sua
vez, representa uma das mais importantes expressões teóricas da sociologia, nos
primeiros anos do séc. XX. Nesse período, as bases das Ciências Sociais ainda
estavam em construção: tanto seus fundamentos, quanto seus instrumentos metodológicos.
A grande preocupação de Weber é trazer para o plano técnico o pressuposto da
validade e da objetividade, que passarão a ser considerados como propriedades
metodológicas.
A validade do
conhecimento científico dependerá, então, da confiabilidade dos métodos
empregados, considerando a estrutura lógica dos mesmos, capaz de garantir a
transmissão da verdade dos enunciados observáveis às hipóteses e vice-versa.
Desta forma é possível preencher a condição fundamental da objetividade científica
exigida por Weber: a verificação empírica dos resultados obtidos.
Para Weber, a
validade da sociologia – enquanto ciência – está unicamente nos problemas específicos
que ela se propõe a resolver. O acontecimento social refere-se aos valores, ou
seja, à própria ação humana. Partindo do princípio que, na realidade empírica,
a ação está sempre relacionada a algum tipo de juízo de valor, é de suma
importância emancipar o pesquisador de seus valores para que as ciências sociais
se fundamentem, num esforço de construir uma metodologia adequada a cada especificidade
social.
Entretanto, libertar-se
dos próprios valores impõe um esforço hercúleo. Para Weber, nenhum sociólogo
tem condições de uma isenção plena em função das suas relações sociais e de
suas valorações. Ele pode realizar abordagens, levantar problemas e descobrir
novos aspectos de seus objetos de estudo. Apesar disso, Weber ressalta a
importância da neutralidade científica como meta a ser buscada, embora
raramente alcançada.
De fato, não se
pode analisar a metodologia de Durkheim sem considerar o seu enraizamento positivista,
bem como não se pode debater a “sociologia compreensiva” de Weber sem levar em
conta o neokantismo que constitui um de seus suportes. Em se tratando que toca
à teoria social de Marx, os problemas metodológicos vão além da natureza
teórico-filosófica, por razões fundamentalmente políticas e ideológicas – na
medida em que a teoria social de Marx vincula-se a um projeto revolucionário, a
análise e a crítica da sua concepção teórico-metodológica estiveram sempre
condicionadas às reações que tal projeto despertou e continua despertando.
A questão
metodológica, contudo, não se encerrou com Weber, ao contrário, manteve-se em
voga, como é possível perceber pelos problemas tratados por Giddens, para quem
“A ciência depende não da acumulação indutiva de demonstrações, mas do
princípio metodológico da dúvida” (2002:26) ou ainda por Morin, como o chamado «Paradigma da Simplificação», ao qual ele opõe uma nova forma de pensar, capaz
de apreender a complexidade do real: O paradigma da complexidade.
De fato, com o
aprofundamento da chamada crise da pós-modernidade, poder-se-ia dizer que a tão
alardeada crise das ciências sociais não passava de uma crise de paradigmas, devido
à dificuldade de alguns interpretes em lidar com as mudanças sociais, com novos
problemas, que exigiam novos olhares e diferentes abordagens.
No que tange a
reinterpretação da sociedade através de novos olhares, deve-se ressaltar uma
contribuição em peculiar da obra de Pierre Bourdieu, na construção de uma
sociologia reflexiva, sobretudo em sua obra “O ofício de sociólogo”, na qual
ele trabalha especificamente com a questão metodológica. De acordo com o autor, para ser um sociólogo é
preciso romper com os discursos pedagógicos, pois o saber sociológico é muito
mais que uma soma de técnicas, métodos e conceitos separados ou separáveis na
pesquisa.
Ser um sociólogo é
sobretudo, cultivar o olhar sociológico. É assimilar esse habitus em tal nível
que os princípios científicos estejam simplesmente interiorizados. É manter-se
vigilante sobre o trabalho científico e seus recursos, para ao ser confrontado
com o erro, encontrar um conhecimento mais verdadeiro, ao invés de fechar-se
nas verdades de suas hipóteses. É, embebendo-se nos clássicos, livrar-se das
pré-noções (Durkheim); evitar a tentação de doutrinar (Weber) e, cima de tudo,
é compreender que o fato social não é meramente construído. Ele é antes de tudo
conquistado, para só depois ser construído e constatado; ou seja; o mais
importante na questão do método é que o pesquisador saiba pensar de forma
adequada, mesmo diante de resultados negativos, dos interditos e dos silêncios,
pois mesmos os não-ditos têm muito a dizer.